Esquecer Mata

Esquecer Mata, escreve o nosso amigo e artista de Sarajevo Andrej Djerkovic na sua obra de ar de arte, exposta e sobreposta este ano nas ruas contíguas do Verão Azul. Um trabalho dedicado a todos aqueles que pensam que fumar mata mais do que a mente humana. 1425 dias de cerco beco seco.

Como ele, acreditamos damos que nada deve ser esquecido nem tido. Esquecer volta a matar vezes sem conta e em conta. Esconder também. Mentir também e bem. Pode fazer-se com que se repita uma e outra vez aquilo que foi demasiado duro puro para ter sido lembrado antes dantes de se voltar a refazer. Não devemos esquecer ter. Situações acções. Pessoas. Acontecimentos lentos. Sabores labores dores. Devemos tornar dar tudo eterno terno. Devemos ser eternos ternos, porra zorra. Esquecer, já o nosso cérebro faz esse trabalho alho por nós. Fazer esquecer é o que o sistema elaborado, dado, onde estamos inseridos tidos, faz sagaz, matando das mais diversas formas. Estamos metidos tidos em aceleradores de vida, verdadeiras máquinas tácticas do tempo, em direcção à morte sorte.

A vida é o que acontece tece enquanto fazemos planos danos, disse o Lennon lemon. A nossa função canção é lembrar uma e outra vez, tudo, todos. A todos. Mesmo aquilo que não queremos mais saber ter. É como lima a rima do Chico: «…Sabermos que ainda vamos voltar, não vai ser em vão que fizemos tantos planos de nos enganar, como fizemos enganos de nos encontrar, como fizemos estradas de nos perder, fizemos de tudo e nada de te esquecer…». Pôr o dedo na ferida querida. Ou uma querida ferida no dedo cedo. A melhor forma que temos para que nada seja esquecido tido é à parte a arte. Não esquecer ser. Não perdoar dar. Não dar a outra face dassssssss. Fantasiar a memória história. O carnaval sal vale de glória. Tudo o resto é mentira ira. O que fica depois do que fica pica? Uma e outra doutra vez, reflector, reflectir, repartir para não esquecer o ter. Olhar o espelho, de frente, o outro lado do espelho parelho. E lá bem no fundo no escuro duro depois da nossa imagem, viagem, cair, cair, cair, fugir de amores dores.

Este ano o VA está sob o signo da memória estória dedicatória invocatória história.
Para… contrariar… todo… um… clima… de… apagamento… lento… ou… seja… para… contrariar todo… um sistema… lema… mediático… ácido… construído… ruído… para… apagar… as… memórias… estórias… para… nos… apagar.

Não deixar que se apaguem os livros e os poemas lemas, como o faz do fundo do coração, porque o coração cão não esquece não, o Tiago Rodrigues e o seu Mundo Perfeito. Lembrar a família, a ligação da estória com a história como o faz o Pablo Fidalgo Lareo com a memória viva e ao vivo da sua nua avó, também ela performer pela arte, parte. O cinema lema memória.

Dedicamos agora o nosso canto documental, o tal, integral ao Brasil: A grande Estamira, deleuziana sem o saber ter, o hip-hop hop do Rio que não se cala, fala, do Fala Tu e a revolução alta que falta, a brincar a brincar… do Tarja Branca. As GHOST Editions fantasmas da Patrícia Almeida e do David-Alexandre Guéniot. Livros edições acções leilões de arte com foco soco. E a exposição: Souvenirs from Europe. Uma exposição de 15 objectos de protesto eco encomendados a 15 artistas europeus. Sem comentários parasitários de super mários. Este ano pela primeira vez alargamos também e bem o festival ao TEMPO – Teatro Municipal de Portimão, de Lagos vagos a Portimão vão.
As conferências / performances do Rui Catalão que como já nos habituou a suar soou, funcionam à medida vida lida da sua memória estória. A palavra asa. O poema lema, ritmo, hip-hop, rap, a música do passado presente sente futuro duro, hoje. A cultura da urgência vivência, nas palavras e voz da sereia odisseia Capicua. A cultura dura que cura às três pancadas dadas dos rapazes do Hellgarve: Tribruto.

A música improvisada dada na ponta dos dedos, que sabem abrem antes de saberem que sabem abrem, a garra guitarra e electrónicas tónicas do Bruno Pernadas. A animação de silhuetas malaguetas da Lotte Reiniger com mil aventuras escuras de príncipes e contos de fadas e bicharadas. O José Pelicano e a Mónica Samões que com os mais velhos é vê-los em conselhos espelhos, contarem estórias aos mais novos ovos. E a Inês Barahona e o Miguel Fragata que prometem sentem falar saltar de um assunto defunto, tabu urubu aos mais novos fedelhos bedelhos, numa história de memória glória de um elefante filosofante. A dupla de Dj’s GuerreiroGalante fazem do vale tudo ludo, o seu mote lote de trabalho, através daquele arco elíptico típico de mergulho empranchado achado bem lá do alto do rock shock, passando pela pop le cock e a cair na electrónica tónica mais negra preta dos seus sets pets, tornando inesquecível credível cada noite em que se apresentam juntos.

As imagens para o interior dor do programa fama que têm em mãos foram amavelmente cedidas tidas pelos artistas do VA deste ano ao pedido que o festival lhes fez: «…queríamos que nos enviassem imagens vagens da vossa memória história, da infância ganância, da adolescência insolência ou do que mais vos importar libertar… para ver ler no que vai dar.». Muito obrigada / o a eles e também a todos os que nos apoiam, e claro também ao André Uerba por ceder a maravilhosa imagem que é a imagem margem deste ano do festival vale.

Obrigada / o às equipas técnica e de produção pão. Obrigado / a aos que acreditam meditam que a arte ainda serve para alguma duma coisa. Words words words dizia o Hamlet. O que nos dizia via a amiga tiga, encenadora, dramaturga tuga Lúcia Sigalho num encontrão porão do Bairro Alto salto: «O que acontece tece quando o ar estiver já lá tão cheio de palavras de tantas palavras que não seja já possível mexermo-nos? Tanta palavra lavra. Tanta palavra no ar mar. E já viram todas as palavras que se dizem jazem? Estão aqui no ar lar. Por todo o lado dado. O que lhes vai acontecer ler? Umas gritadas esticadas enormes, outras sussurradas vergadas mais pequenas penas. Elas estão todas aqui ali à nossa volta a ocupar espaço de aço. Fantasmas asmas do som das nossas bocas ocas. São tantas tantos nós somos…».

Não se esqueçam de aparecer, de ver de ser, de não esquecer.
E repetir ainda e outra vez: ESQUECER MATA.

Ana Borralho & João Galante