19 > 22 OUT 2018 / Loulé & Faro, Portugal
O Verão Azul propõe, entre 19 e 22 de Outubro, a realização de um Laboratório que permita mapear e identificar as práticas artísticas de criadores que trabalham nas periferias, seja por se situarem em regiões mais afastadas dos grandes centros urbanos, seja porque optam pelo desenvolvimento de projectos mais limítrofes dos grandes circuitos artísticos.
Durante 4 dias convidamos artistas a colocar no seu corpo (efectivo ou simbólico) o significado do termo periferia. Propomos o pensamento sobre este conceito tomando por base a ideia de que o conceito de periferia é uma construção social dos grandes centros de poder que definem as hegemonias culturais e, como tal, modos de poder de uns sobre outros, tal como apontou Gramsci e, mais tarde, Chantal Mouffe desenvolveu.
Pretendemos, com este Laboratório, gerar um espaço intermédio antes da próxima edição do festival em 2019, onde seja possível o intercâmbio de práticas e conhecimento à volta das artes, tomando como eixo de referência questões sobre as formas e motivações dos próprios artistas para fazer o que fazem.
Dividindo-se entre as cidades de Loulé e Faro (as actividades transitam entre os dois centros: nos dias 19 e 20 de Outubro é acolhido por Loulé e nos dias 21 e 22 por Faro) o Laboratório abre-se também à exposição e participação pública em ambas as cidades com a apresentação no dia 20 de Outubro de um Percurso Performático (Performances na cidade) em vários locais de Loulé e a realização no dia 21 de Outubro em Faro no Teatro das Figuras de uma Instalação Performativa Participativa intitulada “Long Table”, dispositivo criado pela artista activista britânica Lois Weaver.
Convidámos para se juntarem ao Laboratório como figuras provocadoras os artistas Mónica Calle (encenadora, actriz e directora da Casa Inconveniente), Gustavo Ciríaco (coreógrafo, perfomer) e Fernando Pinheiro. O seu papel será o de, a partir das suas próprias práticas artísticas, mediarem o Laboratório e poderem questionar as urgências, dinâmicas e desejos de todos os participantes.
A dinâmica do Laboratório assentará no conceito de colectivo polifónico. Propomos, por isso, uma versão de trabalho que permita expor as individualidades mas também gerar ligações entre todos os que participam, tentando responder às questões: de que forma este tema nos toca e como transforma a nossa maneira de criar e participar na sociedade? De que forma a minha maneira de me relacionar com o contexto proporciona uma consciência diferencial na criação?
Abrimos esta convocatória à participação de artistas de diferentes áreas: dança, teatro, performance, música, cinema, artes visuais.
Como resultado da convocatória feita a artistas e profissionais das artes de diferentes áreas para participação no Shock Lab, a lista de participantes selecionados é a seguinte:
Alexandre Valinho Gigas
Poesia, música (Português, Coimbra)
Ana Galvão
Artes plásticas (Portuguesa, Almada)
Ana Sofia Peixoto (o_phe_lia)
Performance (Portuguesa, Braga)
Annabelle Pirlot
Dança (Francesa, Paris)
Bruno Caracol
Artes visuais (Português, Lisboa)
Catarina Bota Leal
Artista plástica, performance (Portuguesa, Coimbra)
Gabriela Pas
Artes interdisciplinares (Brasileira, Lisboa)
Mauro Amaral
Música, performance (Português, Faro)
Miguel Alexandre de Oliveira
Cinema (Português, Tavira)
Diana Bernedo Tarragona / Coletivo Jat
Teatro físico (Espanhola, Faro)
Miguel Martins Pessoa / Coletivo Jat
Teatro físico (Português, Faro)
Paulina Szczesna
Teatro (Polaca, Berlim)
Sofia Guerreiro
Artes visuais / design (Portuguesa, Faro)
Valentina Parravicini
Dança (Italiana, Lisboa)
Cada participante apresenta um projecto subordinado ao tema do Laboratório, com o qual expõe as suas práticas de criação e pensamento e sobre o qual trabalhará durante estes 4 dias.
METODOLOGIA
O Laboratório funcionará como um espaço temporal de produção delimitado desde o singular ao colectivo. A metodologia utilizada baseia-se na ideia de jogo defendida pelos situacionistas: não se pretende competir, mas antes construir e participar em conjunto na criação de ambientes lúdicos que permitam conviver livremente durante a sua realização, sem medos nem hierarquias.
No primeiro dia, convidamos todos os participantes a apresentarem-se com o seu projecto. Estas apresentações, fechadas ao público, serão seguidas por todos. Posteriormente, os participantes repartem-se em três grupos de trabalho, cada um orientado por um dos artistas provocadores.
Enquanto que a apresentação de todos é um momento colectivo em que todos tomam consciência do trabalho dos seus pares, o questionamento é feito entre os três grupos de trabalho. A partir das apresentações individuais e do mapeamento dos conceitos que atravessam essas apresentações, propomos um espaço de feedback qualitativo que será guiado pelos provocadores, de forma a preparar blocos de exposição desses mesmos trabalhos no dia seguinte. O papel dos provocadores é o de questionar as intenções, propostas e dúvidas de cada participante, de forma a que seja possível estabelecer relações e dinâmicas entre os artistas de cada grupo e entre cada um dos grupos em relação aos outros. Por isso mesmo, é importante que cada participante venha com uma proposta de criação bem concreta e que esteja preparado para reagir rapidamente a todas as metodologias propostas.
No segundo dia, e a partir de todo o trabalho desenvolvido no dia anterior, os participantes, com a orientação dos artistas provocadores e apoio da equipa do Verão Azul, apresentam os seus projectos em três blocos de programação durante a tarde. Este será o primeiro momento público do laboratório que, durante a tarde do dia 20 de Outubro, propõe à cidade de Loulé um Percurso Performático (Performances na cidade) sobre a prática dos 15 artistas participantes.
Mais importante do que a realização técnica da proposta artística é a capacidade dramatúrgica da mesma e o seu pensamento enquanto dispositivo cénico ou visual.
Neste percurso cabe também aos provocadores e aos próprios participantes encontrarem e reajustarem os conceitos que unem ou desunem as apresentações. Será a partir desta recolha de conceitos e da observação dos diferentes projectos, aos quais todos têm que assistir, que se fará o 3º dia de trabalho.
No terceiro dia, durante a manhã haverá uma sessão de feedback colectivo, onde todos os participantes entram num jogo que permita transmitir aos seus pares os lados positivos e a trabalhar de cada projecto, desejos sobre cada um, considerando o contexto, as condições e as intenções de cada artista.
Durante a tarde, no Teatro das Figuras, em Faro, o Laboratório abre-se ao público para uma Conversa Performativa. A partir do dispositivo criado pela artista activista britânica Lois Weaver, faremos uma “Long Table”, uma instalação performativa participativa onde se discutirão as experiências dos dois últimos dias, das condições e perspectivas de cada artista. Também aqui existem regras de participação, que convidam a que cada fala, sejam participantes, seja público, tenha um pendor performático que, ainda que simples, possa oferecer a possibilidade de visibilizar posturas, pessoas e projectos à volta do tema proposto.
No quarto dia, todos os participantes voltam a reunir-se em três grupos de trabalho, onde são escritas as suas conclusões sobre a experiência vivida. Estas conversas serão transmitidas entre todos os participantes e recompiladas num documento que servirá como manifesto do Laboratório, e que fará parte da sua documentação.
Todo o Laboratório será documentado: das apresentações individuais e colectivas, às sessões e mesas de trabalho. O resultado desta documentação assume a forma de uma publicação online que servirá para transmitir a experiência, metodologias e práticas desenvolvidas durante os dias de encontro.
CONVOCATÓRIA
Os interessados devem preencher o FORMULÁRIO ONLINE com a seguinte informação:
1. Dados pessoais;
2. Apresentação de um projecto com o qual se candidata e que tenha a possibilidade de ser integrado num circuito de apresentações, com uma duração entre 10 a 20 minutos (texto entre 5.000 a 7.000 caracteres);
3. Vídeo-link de 2 obras de sua autoria que considere essencial para definir o momento em que se encontra o seu trabalho;
4. Biografia (máximo 2.000 caracteres com links que permitam entender o percurso);
5. Carta de motivação até um máximo de 5.000 caracteres, onde explique porque considera importante participar neste Laboratório.
Perfil dos participantes: Artistas e profissionais das artes (dança, teatro, cinema, artes visuais, performance e outras áreas artísticas associadas), com uma trajectória mínima de duas criações e que estejam interessados em apresentar um projecto subordinado ao tema do Laboratório
Número de participantes: 15 participantes (7 lugares para artistas algarvios e 8 lugares para artistas nacionais e estrangeiros).
NOVAS DATAS
Data limite de candidatura: 28 de Setembro
Comunicação de resultados: 4 de Outubro
Condições de participação: Disponibilidade para estar presente durante os 4 dias do Laboratório, tempo inteiro.
Júri: Ana Borralho, Catarina Saraiva e João Galante (Festival Verão Azul), Gil Silva (Teatro das Figuras, Faro), Paulo Pires (Cine-Teatro Louletano)
SOBRE OS ARTISTAS / PROVOCADORES
Mónica Calle (teatro)
Mónica Calle é encenadora, cenógrafa, actriz e directora da Casa Conveniente. Estudou na Escola Superior de Teatro e Cinema. Em 1992, com A Virgem Doida, dá início ao projecto Casa Conveniente.
O seu trabalho situa-se entre a componente experimental e o texto teatral.
Desde 2007 desenvolve um trabalho de formação/espectáculo em que mistura actores e não actores. Lança, em 2009, um projecto de formação de actores em meio prisional, com a dupla vertente de trabalho no E.P. e a integração de ex-reclusos como actores na CC.
Em 2011 encena vários espectáculos a partir de Heiner Müller. Em 2012 reencena e interpreta A Virgem Doida de Rimbaud e encena Iluminações para a Companhia Maior.
Em 2013 encena e interpreta Os Meus Sentimentos de Dulce Maria Cardoso (eleito entre os 10 melhores espectáculos do ano pelo Expresso e Menção Especial do Prémio da Crítica), A Sagração da Primavera e Noites Brancas.
Em 2013 o projecto Casa Conveniente migra para a Zona J de Chelas, regressando à ideia fundadora de trabalhar a partir da margem, e cria um novo espaço teatral na cidade de Lisboa – Casa Conveniente / Zona Não Vigiada, aí estreando A Boa Alma, (Jan 2015).
Desde 2014 desenvolve o projecto Ensaio para uma Cartografia, considerado pelo jornal Público como o melhor espectáculo do ano 2016.
A convite do programa Cultura em Expansão da CMPorto desenvolveu o projecto Rifar o meu Coração com a comunidade do Bairro da Sé.
O seu trabalho já foi apresentado no Brasil e em França e é presença regular no Festival de Teatro de Almada.
Em 2017 recebeu a distinção Maria Isabel Barreno – Mulheres Criadoras de Cultura, atribuído pelo governo de Portugal.
Gustavo Ciríaco (dança)
Gustavo Ciríaco é um artista e coreógrafo nascido no Rio de Janeiro e residente em Lisboa. O seu trabalho faz convergir elementos da dança, do paisagismo, da arquitectura e das artes visuais, onde a materialidade do contexto, a sua partilha sensível e a ficção dialogam em interacção com a presença do público.
As suas obras foram já apresentadas internacionalmente em teatros, festivais, galerias, museus e centros de arte contemporânea na Europa, América do Sul, Central e do Norte, Ásia e Médio-Oriente.
Em Portugal o seu trabalho foi acolhido no Museu Berardo, Culturgest, Teatro Maria Matos, Alkantara Festival, TNDM II, Museu Fundação Serralves, Maus Hábitos, Walk & Talk Azores, Verão Azul, Galeria ZDB, Temps d’Images, entre outros.
Foi artista residente no Hemispheric Institute (Nova Iorque), Les Récollets (Paris), BCS (Taipei), PAR (Montevideu), Al Mammal Foundation (Jerusalém), Tokyo Wonder Site (Tóquio) e Mercat de Flors (Barcelona).
Realizou workshops e palestras em Saigão, Nova Iorque, Taipei, Lyon, Fortaleza, São Paulo, Lisboa, Porto, Ponta Delgada, Rio, Paris, Santiago, Tóquio, Ramallah, Paris, Madrid, Tóquio e Montevideu.
Fernando Pinheiro (artes visuais)
1947, Lisboa. Artista plástico, Licenciado em 1976 em Artes Plásticas na Universidade de Vincennes. Foi Bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, em Paris, onde residiu vários anos. Realizou várias exposições individuais e participou em exposições colectivas em vários países, mas principalmente, em França e em Portugal. Actualmente, vive e trabalha no Algarve.