Cineclube Faro - Auditório IPDJ / Ter 22 OUT 21h30 DOCUMENTÁRIO / 2017 / 50' / M12 / Gratuito Legendado em EN
No meio da taiga Siberiana, a 450 milhas da aldeia mais próxima vivem duas famílias: os Braguine e os Kiline. Não há uma única estrada que passe por ali. A única forma de chegar a Braguino é através de uma longa viagem no rio Yenisei, primeiro de barco, depois de helicóptero.
Auto-suficientes, ambas as famílias vivem de acordo com as suas próprias regras e princípios. No meio da aldeia: uma barreira. As duas famílias recusam falar uma com a outra. No rio há uma ilha, onde uma outra comunidade está a ser construída: a das crianças. Livres, imprevisíveis, selvagens.
Resultado do medo do outro, de animais selvagens, e da alegria obtida da imensidade da floresta, desvenda-se um conto cruel no qual tensões e medo dão forma à geografia de um conflito ancestral.
Festivais & Prémios:
FIC Valdivia – Menção Especial do Júri
San Sebastian Zabaltegi
FID Marseille – Menção Especial do Júri
Realização: Clement Cogitore
Produção: Cédric Bonin for Seppia
Co-Produção: Making Movies Oy
Fotografia: Sylvain Verdet
Montagem: Pauline Gaillard
Desenho de Som: Julien Ngo Trong, Franck Rivolet
Musica: Éric Bentz
Clément Cogitore (1983, Colmar) desenvolveu a sua prática artística algures entre o Cinema e a Arte Contemporânea. Combinando filme, vídeo, instalações e fotografias, Cogitore questiona as modalidades da co-habitação entre a humanidade e as suas próprias imagens e representações.
O trabalho de Cogitore tem sido exibido e exposto, entre outros, no Palais de Tokyo, Centre Georges Pompidou (Paris), ICA (Londres), Haus del Kulturen der Welt (Berlim), MACRO (Roma), MoMA (Nova Iorque), MNBA (Quebeque), SeMA Bunker (Seul), Red Brick Art Museum (Pequim), Kunsthaus (Basel). As suas peças cinematográficas têm vindo a ser seleccionadas e premiadas em numerosos festivais internacionais (Cannes, Locarno, Telluride, Los Angeles, San Sebastian).
Grupo de Crítica VA9 – Textos
Texto de Tata Regala
Será um documentário? Talvez uma espécie de quadro fugaz onde se perde a majestosidade do urso pardo. A vida em contexto ermo parece existir só por si, tal como a morte e o tempo que ora se arrasta ora soçobra.
O filme “Braguino” de Clément Cogitore parece invocar um pouco daquela peça de Sartre: Huis Clos, onde se demonstra que o Inferno são os outros. E com efeito os outros parecem ser a única tormenta da taiga Siberiana, onde seria expectável que tudo o resto fossem agruras e que o calor humano fosse o único refúgio. E no entanto há contra-pontos nesta produção cinematográfica que, por isso, não parece opinar, nem tampouco deixar de destacar aspectos elegantemente humorísticos do isolamento. Toca-me a linguagem corporal das crianças logo no primeiro plano e as perguntas que ficam no ar… “Que som é este do helicóptero que em simultâneo me fustiga com vento?”; “Será que este pato é mesmo meu?”; “Os Killines têm direito à outra margem?”.
Não há propriamente uma narrativa e por isso, Cogitore oferece-nos uma tangente a uma vida diferente. Fuga. Auto-suficiência. União. Conflito. Curiosidade. História. Emoções que quase sempre nos surgem testemunhadas por um rio impávido. Este rio que é estrada e fronteira… veiculado na grande tela do festival.
26 Outubro 2019