© Jorge Gonçalves

VERA MANTERO – uma misteriosa Coisa, disse o e. e. cummings*

Centro Cultural de Lagos
Sáb 21 OUT, 21h30

Dança / 1996 / 20' / M12 / 7€ / 5€

O solo uma misteriosa Coisa, disse o e. e. cummings* foi estreado em Janeiro 1996, para a Homenagem a Josephine Baker, uma iniciativa da Culturgest em Lisboa.
Na sua visão da vida e da obra da bailarina e cantora negra da primeira metade do século XX, Vera Mantero optou por uma abordagem que vai para além da figura de Josephine Baker.

Para o programa ela escreveu: É uma coisa que eu gostava de encontrar ou de criar, um amplo território em que a riqueza de espírito reinasse. (…) Este espírito de que falo não tem vontade nenhuma de anular o corpo, nem vergonha nenhuma do seu desejo e do seu sexo, o que este espírito de que falo tem vontade de anular é a boçalidade, a assustadora burrice, a profunda ignorância, a pobreza de horizontes, o materialismo, etc. etc. (infelizmente a lista tem ar de ser longa…).

© Park Sang Yun

“Uma impossibilidade, uma má-vivência, uma tristeza, uma ausência, um desgosto, uma incapacidade, atrozes”, são algumas das palavras que se repetem, com uma insistência crescente, ao longo de todo o espectáculo, “em que Vera Mantero se equilibra precariamente sobre uns pés de cabra movimentando-se ao ritmo da dificuldade que as palavras enunciam sem conseguir arredar os pés da condenação a que permanecem pregados. Exasperante corporização de um mal-estar que, como se sabe, começa sempre por ser um não saber o que se há-de fazer com o corpo”, descreve Alexandre Melo no Expresso. E conclui: “Duas hipóteses para descrever esta situação genérica, geral, civilizacional: há qualquer coisa que falta. Ou, então, talvez melhor: falta qualquer coisa que não há.”
Texto do dossier de imprensa do Festival Danças na Cidade 1996

*o que ele disse de facto sobre a Josephine: “uma misteriosa Coisa, nem primitiva nem civilizada, ou para além do tempo, no sentido em que a emoção está para além da aritmética”.


Concepção e interpretação: Vera Mantero
Caracterização: Alda Salavisa (desenho original de Carlota Lagido)
Adereços: Teresa Montalvão
Desenho original de luz: João Paulo Xavier
Adaptação e operação de luz: Hugo Coelho
Produção executiva: Forum Dança
Itinerância: O Rumo do Fumo
Apoio: Casa da Juventude de Almada, Re.al / Amascultura
Produção: Culturgest, Lisboa, 1996 – Homenagem a Josephine Baker
O Rumo do Fumo é uma estrutura financiada por Ministério da Cultura / Direcção-Geral das Artes


Vera Mantero
Estudou dança clássica com Anna Mascolo e integrou o Ballet Gulbenkian entre 1984 e 1989. A sua primeira experiência coreográfica data de 1987 e, desde 91, o seu trabalho tem sido mostrado, a solo ou em grupo, por toda a Europa, Argentina, Brasil, EUA, Canadá, Coreia do Sul e Singapura.
Dos seus trabalhos destacam-­se os solos Talvez ela pudesse dançar primeiro e pensar depois (1991), Olímpia (1993), uma misteriosa Coisa, disse o e. e.cummings* (1996), O que podemos dizer do Pierre (2011) e Os Serrenhos do Caldeirão, exercícios em antropologia ficcional (2012), assim como as peças de grupo Sob (1993), Para Enfastiadas e Profundas Tristezas (1994), Poesia e Selvajaria (1998), kɘ supˈɔɾtɐ i sɘpˈaɾɐ i kõtˈɐj uʃ dˈojʃ mˈuduʃ i õdˈulɐ (2002) e Até que Deus é destruído pelo extremo exercício da beleza (2006).

O seu trabalho artístico tem sido amplamente reconhecido, com prémios institucionais como o Prémio Almada do Ministério da Cultura (2002) ou o Prémio Gulbenkian Arte pela sua carreira como criadora e intérprete (2009), ou através de iniciativas como a apresentação de uma retrospectiva do seu trabalho, organizada pela Culturgest em 1999, intitulada Mês de Março, Mês de Vera ou a representação portuguesa na 26ª Bienal de São Paulo, em 2004, com Comer o Coração, uma obra criada em parceria com o escultor Rui Chafes. A cidade do Fundão dedicou um ano à artista (Abril 2015 – Abril 2016), com um projecto intitulado Passagem #2, que inclui a apresentação de vários espectáculos, o trabalho com alunos de várias escolas locais e a recriação de Comer o Coração para o circuito de arvorismo do Parque do Convento, no Fundão.

Integra, desde 2014, o elenco da versão portuguesa de Quizoola!, de Tim Etchells / Forced Entertainment, ao lado de Jorge Andrade e Pedro Penim. Mais recentemente, foi convidada por Boris Charmatz para integrar 20 Dancers for the XX Century, um arquivo vivo dos solos coreográficos mais representativos do século XX, que teve lugar na Tate Modern (Londres) e na Opéra de Paris / Palais Garnier (Paris) em 2015, no Tanzkongress na Staatsoper (Hannover) e no Museo Reina Sofía (Madrid), em 2016, e no qual participa com alguns dos seus solos dos anos 90. Colabora regularmente em projectos internacionais de improvisação, ao lado de improvisadores e coreógrafos como Lisa Nelson, Mark Tompkins, Meg Stuart e Steve Paxton.
Desde 2000 dedica­-se igualmente ao trabalho de voz, cantando repertório de vários autores e co­criando projectos de música experimental. Lecciona regularmente composição e improvisação, em Portugal e no estrangeiro.