© Luciana Fina

LUCIANA FINA – Questo è il piano

Auditório do Solar da Música Nova, Loulé / Dom 14 NOV 16h00

ENTRADA LIVRE sujeita a reserva 
Cinema (20') +  Debate (60') / M12
30% Cinema / 20% Reflexão / 40% Conversa / 10% Saudade

Realizado durante a eclosão da pandemia, com carácter de urgência e recursos mínimos, Questo è il piano é um poema visual sobre o antinómico apelo à sobrevivência das espécies e o indomável exercício da destruição. Foi filmado entre Março e Abril de 2020 numa área do Alentejo litoral, outrora protegida e preservada, onde a autora se deparou com uma vasta operação de desflorestação que avançava entre as dunas, indiferente à pandemia.

Nesses meses de confinamento assistia-se a uma desaceleração radical no modo de estar no mundo. Os sistemas associados ao desenvolvimento económico desenfreado foram, mais do que nunca, postos em causa e a ecologia tornou-se um dos temas fulcrais de reflexão, com inúmeros autores a correlacionar a eclosão de pandemias à destruição dos ecossistemas.
Essa ampla área de território, adquirida por um grande grupo americano especializado em turismo de luxo, e a sua riquíssima floresta de pinheiros e sobreiros estava a ser devastada e transfigurada para dar lugar a um campo de golfe e a um luxuoso projecto de resort. Esta desmedida operação ameaçava a floresta e os recursos hídricos da região, ignorando por completo a gravidade do momento, os perigos da desertificação, o imperativo da protecção do ecossistema e de equilíbrios indissociáveis da nossa existência.
Perante isto, para Luciana Fina, tornou-se imperativo fazer um filme de denúncia e também de desilusão. Um filme que nos confronta com a nossa impotência face a forças que, em nome da evolução da economia e do progresso, arrasam o sentido de coisas primordiais.

Questo è il piano estreou em Novembro de 2020 no Doclisboa e, de acordo com a prática cinematográfica da autora, adquiriu a forma de uma instalação para a exposição Face à Vida Nua no MNAC – Museu Nacional de Arte Contemporânea (Dez 2020 – Mai 2021).


Questo è il piano (2020) / Vídeo HD, Som, Cor, 20′
Realização, imagem e som: Luciana Fina
Montagem e mistura de som: Elsa Ferreira
Cor: Andreia Bertini
Música: Giovanni Battista Pergolesi, “Questo è il piano”, cantata per contralto, archi e basso continuo; Voz: Gloria Banditelli; Maestro: Fabio Maestri. Complesso Barocco In Canto
Apoios: MNAC, Kino Sound Studio
Agradecimentos: Cinemateca Portuguesa “Sala de Projecção”, Ernesto Rodriguês, Edmea Brigham, Cristina Fina, Emília Tavares, Luísa Homem


DEBATE
Perante esta devastação, e num momento em que se discutem outras lutas que podem alterar totalmente a paisagem portuguesa – a mineração de lítio –, parece-nos importante trazer actores conhecedores desta temática para discutir a dicotomia entre turismo e sustentabilidade. Colocar o turismo frente ao ambientalismo numa região como o Algarve parece-nos importante para entender que alternativas podem surgir que permitam às gerações futuras disfrutar de um ambiente que, em muitos aspectos, já só existe na memória dos nossos avós.

O Algarve tem feridas abertas devido à inexistência, nos anos 70 a 90, de políticas de desenvolvimento regional que incluíssem as questões ambientais. Nos anos 2000 estas políticas são conhecidas e defendidas. Foi dito que o Alentejo não poderia repetir os erros do Algarve. O que pode o Algarve ensinar sobre as perdas e ganhos que teve com as alterações morfológicas do seu território em prol do turismo?

Convidados: Associação Zero, Luciana Fina, Turismo do Algarve


Luciana Fina nasceu em Itália, onde se formou em Literaturas Românicas. Vive e trabalha em Lisboa desde 1991. Após uma longa colaboração com a Cinemateca Portuguesa como programadora, no final dos anos 90 estreia-se na realização, integrando a geração dos realizadores e realizadoras que deram nova vida ao documentário em Portugal. Cineasta e artista, tem desenvolvido um trabalho que migra frequentemente da sala cinematográfica para o espaço de exposição. Realizou o seu primeiro filme em 1998, A Audiência. Entre 2002 e 2003, com a instalação CCM na Fundação Gulbenkian e o tríptico CHANTportraits no MNAC Lisboa, deu início ao seu percurso em espaços expositivos, focando os temas das migrações e do retrato. O seu extenso corpo de trabalho – filmes, instalações fílmicas e site-specific – tem sido apresentado nacional e internacionalmente em festivais de cinema e exposições, estando representado na Colecção Moderna do Museu Calouste Gulbenkian e Nouveaux Medias do Centre Georges Pompidou. Entre os seus trabalhos destacam-se o filme In Medias Res (2014), prémio Melhor Filme do Arquiteturas Film Festival (PT) e menção honrosa do Temps d’Images Film on Art Award; a instalação e o filme Terceiro Andar, Museu Gulbenkian (2016-2017), Doclisboa e 34º Torino Film Festival. O seu mais recente trabalho, a instalação Andrómeda, foi apresentada nas Carpintarias de São Lázaro no âmbito do Festival Temps d’Images, Lisboa (2021).